03/10/2008

auto-clone de si mesmo

Fevereiro de 1991. São Paulo. No auge de meus 12 anos eu presenciava, na minha própria casa, a invasão recente da MTV versão Brasil, um canal só com música e imagem, essa mistura complementar a que chamamos comumente de videoclipe.
Era quase madrugada. Minha irmã, momentaneamente se esquecendo que não suportava seu irmão mais novo, me chamou: "Vem ver essa banda! Você vai gostar". (Importante lembrar que naquela época meu gosto musical se resumia a Bon Jovi, Milli Vanili e Erasure). Entrei na sala e paralisei. Era como se a vida tivesse recomeçado ali.

As imagens do clipe Fight Like a Brave até eram interessantes porém era a música que me sacudia de dentro pra fora. Neurônios pulavam de alegria, um verdadeiro open bar de sinapses! Era uma festa no meu cérebro mas só eu tinha sido convidado. E foi assim que conheci os Red Hot Chili Peppers, a primeira banda que realmente me chamou a atenção e eventualmente se tornaria minha preferida.
Mas o que aconteceu com eles ao longo destes 17 anos? Não é difícil de explicar.

A banda californiana surgiu no começo dos anos 80, auge do Punk, transição da música Disco/Funk para o Rap. Anthony Kiedis era apaixonado por Grandmaster Flash. Flea era apaixonado por Dead Kennedys. Os dois eram apaixonados por Parliament-Funkadelic. A confluência terminante das variáveis resultou em um produto ainda não devassado (quê?). Red Hot era novo, original, tinha atitude, era diferente de tudo o que se fazia em meados daquela década maldita musicalmente!
No clipe uns carinhas da banda tinham cabelo raspado! Porra, naquele contexto se você raspasse o cabelo perguntavam se tava com piolho!! Era tudo diferente mas com estilo. A música misturava aquela guitarrinha distorcida com um suíngue monstro e a voz era meio hip hop. No dia seguinte fui comprar o CD (o formato era novidade na época). Só tinha Mother's Milk, o último disco. Descobri que o guitarrista dos albuns anteriores havia morrido de overdose e no seu lugar entrara um garoto de 19 anos chamado John Frusciante. Não vou entrar no mérito técnico mas acreditem que o cara era um monstro sagrado dos timbres guitarrísticos mundiais.

Meses mais tarde era lançado o que, na minha opinião particular, é um dos melhores albuns de toda a história da música ocidental contemporânea: Blood Sugar Sex Magik. Durante a tournée realizada pra divulgação o guitarrista John Frusciante abandonou a banda e pirou. Aí a house fell down, como eles dizem lá.

À partir daí só foi disco bosta. Dave Navarro é um puta músico mas não conseguiu salvar o One Hot Minute de 1995. Ali pensei - é um caminho sem volta...nunca mais seriam os mesmos.
Em 1999, a boa notícia: John Frusciante voltava pra banda! Mas o que pouca gente sabia é que nesse lapso de 8 anos o cara reeeeealmente surtou. Ele se picava o dia inteiro, latia, fumava crack, não tinha limites. Ficou enfurnado em casa, não comia, pouco se importava com higiene pessoal, não limpava a casa, enfim, ele pedia pra morrer mas Deus (substituir por Alá se for muçulmano) teve misericórdia e não o abandonou (Amém!). Mas também não deixou barato: John perdeu TODOS os dentes da boca, se queimou propositalmente nos braços na tentativa de parar com o vício da heroína, envelheceu 20 anos em 8 e o mais triste: DESAPRENDEU A TOCAR. Filho da puta.

O resto da banda deve ter percebido porque aos poucos as composições foram ficando irreconhecíveis até chegar a um ponto onde não mais se enxerga o espírito original das primeiras gravações. E dá-lhe música boiola! Porra, no último disco, das 28 faixas só 3 salvam!!! O resto é um grande amontoado negro de cocô.
É fato que Anthony Kiedis não sabe cantar mas ele foi o primeiro cara que entoou versos daquela maneira atonal-rapística e funcionava perfeitamente pras músicas da banda. Ouçam "Out In LA", "Yertle the Turtle", "Give It Away", enfim, quase todas as músicas até 1991 eram assim e isso que lhes conferia um sucesso interplanetário. Algum corno chegou pro Anthony e o convenceu a cantar direito (no caso dele: errado). E hoje é só música de rosca, nhé-nhé-nhé pra cá e pra lá, uma falta de hombridade sem proporções.

No final das contas, dá até pena do John porque ainda é perceptível sua tentativa de reviver alguns momentos da virtuose e suingue violento de outrora, porém o castigo é duro e imediato: o que se vê é um verdadeiro clone de si mesmo. Metonimicamente por extensão, acontecia o mesmo com todos. E já é tarde demais, a cruel realidade é o presente.
Galera, assumam o efeito impiedoso do tempo! Aceitem de uma vez por todas a decadência e a verdade transparente: que vocês são UMA GRANDE BOSTA DE BANDA!

3 comentários:

Servílio disse...

Grand Finale Espetacular!

Ferr disse...

Tbem era alucinada por eles, mas vi um show deles no ano passado na Califa e foi bem protocolar.
Mas o cd solo do Frusciante é bem bom, ja ouviu?

pampa disse...

Ouvi aquele primeiro "Niandra..." mas só tem uns latidos, música em reverse, loucura total.
Pô, saudades da época boa.
Quando tava começando a aprender a tocar violão, li que o John Frusciante ficava completamente inspirado ao ouvir Captain Beefheart "Trout Mask Replica".
Eu fico assim ouvindo "Blood Sugar Sex Magik".